Quando se fala em tecnologia nuclear, muitos ainda associam o tema exclusivamente a usinas e armas nucleares. No entanto, cerca de 90% das aplicações da energia nuclear têm fins pacíficos e trazem benefícios diretos à sociedade, especialmente nas áreas da saúde, meio ambiente e geração de energia.
Na medicina, por exemplo, a tecnologia nuclear está presente em exames de diagnóstico por imagem, tratamentos contra o câncer e diversas terapias aplicadas em diferentes partes do corpo humano. “São aplicações amplamente aceitas, mas pouco conhecidas”, comenta o professor Aquilino Senra, do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ.
Recentemente procurado pela imprensa para comentar os riscos de possíveis ataques a usinas nucleares no Irã e suas implicações para o Brasil, o professor destacou a robustez do programa brasileiro. “O programa nuclear brasileiro é rigorosamente controlado. Temos um acordo quadripartite com a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC)”, explica.
Esse acordo, que visa garantir o uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, é reconhecido internacionalmente como um modelo de cooperação. “Havia uma rivalidade histórica entre Brasil e Argentina. A criação da ABACC permitiu estabelecer um sistema de controle regional, baseado na confiança mútua e na transparência total”, acrescenta Aquilino.
Além da segurança, o professor destaca o papel estratégico da energia nuclear no cenário atual. Com o crescimento da digitalização, da inteligência artificial e da construção de datacenters, a demanda por fontes confiáveis e contínuas de energia aumentou significativamente. Países como França, onde 82% da eletricidade é gerada por energia nuclear, e os Estados Unidos, com 20%, já demonstram essa tendência. “É uma fonte limpa, constante, sem emissão de carbono e ideal para locais remotos ou com condições extremas”, afirma.
No caso brasileiro, Aquilino projeta um crescimento expressivo. “A energia nuclear deve alcançar pelo menos 5% da matriz elétrica nacional, mais que o dobro do índice atual. A redução na construção de grandes hidrelétricas e as limitações das usinas a fio d’água tornam isso inevitável.”
Ele também aponta para o potencial dos pequenos reatores modulares (SMRs), que oferecem maior flexibilidade, segurança e menor impacto ambiental. “Eles são ideais para atender demandas localizadas, como o datacenter que a Prefeitura do Rio pretende instalar no Parque Olímpico, cuja demanda estimada é de 3,2 gigawatts”, finaliza o professor.
Fonte: COPPE.UFRJ










