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22 07 PEN Gigante noticia 1Desde os tempos em que servidores ficavam escondidos em salas improvisadas, os data centers evoluíram para ocupar um papel central na economia digital. Hoje, são estruturas estratégicas, responsáveis por armazenar dados, rodar aplicações em nuvem e, mais recentemente, sustentar a inteligência artificial que opera 24 horas por dia em nossas vidas. O que antes era local, limitado e descentralizado, agora se tornou global, escalável e essencial.

Nos últimos quatro anos, o número de data centers de hiperescala, aqueles com capacidade muito superior aos tradicionais, dobrou, chegando a cerca de mil unidades no início de 2024. Os Estados Unidos concentram mais da metade dessas estruturas, com gigantes como Amazon, Microsoft e Google controlando cerca de 60% da capacidade instalada mundial. Esse crescimento, no entanto, vem acompanhado de um desafio energético considerável: essas instalações já consomem cerca de 415 TWh por ano, representando aproximadamente 1,5% do consumo global de eletricidade. A expectativa é que esse número quase dobre até 2030, chegando a 945 TWh, podendo representar até 10% da demanda dos Estados Unidos, impulsionado especialmente pelo avanço da inteligência artificial, que exige equipamentos de alto desempenho energético.

Com essa escalada, o setor passou a enfrentar pressões ambientais cada vez maiores. Nos EUA, os data centers foram responsáveis por cerca de 105 milhões de toneladas de CO₂ em 2024, aproximadamente 2% das emissões do país. Além disso, o uso intensivo de água para resfriamento agrava a pressão sobre os recursos naturais, com sistemas de ar-condicionado representando até 40% do consumo energético total dessas instalações.

Em resposta a esses desafios, o setor vem investindo em três principais frentes: escolha de localizações com acesso a fontes renováveis (como energia hidrelétrica, solar e eólica), adoção de geração própria por meio de painéis solares e turbinas internas, e avanços em eficiência energética com novas tecnologias de resfriamento e hardwares de baixo consumo. Ainda assim, a demanda por capacidade computacional cresce em ritmo mais acelerado do que os ganhos de eficiência, o que mantém o consumo total em ascensão.

Diante desse cenário global, o Brasil surge como uma fronteira promissora para atrair novos investimentos. Com 580 MW de capacidade instalada em 2024 (que pode chegar a 2 GW até 2029), o país já atrai a atenção de operadores internacionais. A matriz energética brasileira, predominantemente renovável, com mais de 60% de origem hidrelétrica, somada à presença de cabos submarinos em Fortaleza e outras regiões, torna o Brasil competitivo tanto em sustentabilidade quanto em conectividade.

As projeções reforçam essa tendência: os investimentos anuais em data centers no país, antes estimados em US$ 3,5 bilhões até 2030, foram revisados para US$ 6,5 bilhões, reflexo direto do aumento da demanda por infraestrutura digital. A receita do setor, que foi de US$ 1,3 bilhão em 2023, pode atingir US$ 2 bilhões até 2027. Ainda assim, o país enfrenta obstáculos significativos. Os altos custos de importação de equipamentos, a burocracia no licenciamento (que pode levar até 18 meses), os desafios na definição de conectividade elétrica e a concorrência de países como Chile e Colômbia precisam ser superados para que o Brasil avance.

Apesar disso, apenas 15% das empresas nacionais migraram seus servidores para estruturas profissionais de data centers, o que mostra o enorme potencial de crescimento interno. Estados e municípios brasileiros, além da própria EPE (Empresa de Pesquisa Energética), já começam a mapear as melhores condições ambientais e energéticas para atrair esses empreendimentos, que geram empregos, movimentam a economia e podem transformar regiões em polos tecnológicos.

Os data centers deixaram de ser apenas infraestrutura de apoio para se tornarem pilares centrais da economia digital e da inteligência artificial. O Brasil tem em mãos uma oportunidade estratégica de se posicionar como um hub regional de infraestrutura tecnológica limpa, com ganhos econômicos, sociais e ambientais. A corrida já começou. E o país precisa decidir se será protagonista ou apenas espectador da próxima onda da transformação digital.

FonteArtigo de Wagner Victer, Colunista da Revista Brasil Energia, sobre o potencial para instalação de Data Centers no Brasil e os desafios necessários para captar esses novos empreendimentos digitais para o Brasil

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