O Brasil anunciou o início de um ambicioso projeto para desenvolver microrreatores nucleares totalmente nacionais. Liderada pela Diamante Geração de Energia, a iniciativa conta com a participação das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), da startup Terminus, de nove universidades e institutos, incluindo IPEN/CNEN, IEN/CNEN, UFMG, UFSC, UFC, UFABC, Inatel, Amazul e a Marinha e é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Finep, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
Com orçamento total de R$ 50 milhões — R$ 30 milhões aportados pela Finep e R$ 20 milhões de contrapartida privada, o projeto tem duração prevista de três anos. A INB, além de fornecer o combustível nuclear, coordenará atividades de engenharia nuclear e suporte administrativo, assumindo papel central na dinâmica do grupo.
No escopo das atividades técnicas, o IPEN/CNEN ficará responsável pelo desenvolvimento de materiais críticos, como moderadores (óxido de berílio e grafita) e barras de controle (carbeto de boro), além de explorar ligas inovadoras com urânio, berílio e nióbio por meio de manufatura aditiva. Já o IEN/CNEN retomará pesquisas subcríticas iniciadas nas décadas de 1960/70, realizando testes de neutrônica, instrumentação e validação de modelos teóricos de reatores compactos.
O projeto contempla duas frentes principais. A primeira é a construção de uma Unidade Crítica (UCri), com potência de aproximadamente 100 W, que servirá para testes de segurança e física reatorial. Em paralelo, estão previstas instalações termohidráulicas e termomecânicas, além da fabricação de materiais para um reator modular de cerca de 3 MW, alojado em container de 40 pés, com operação remota por até 10 anos sem reabastecimento.
Os microrreatores prometem entregar uma energia limpa, segura e de baixa pegada de carbono a comunidades isoladas, hospitais, indústrias, hidrogênio verde, data centers e carregadores de veículos elétricos. Um único reator de 5 MW pode atender até 5 000 habitantes abrangendo potencial para atender cerca de 68% dos municípios brasileiros.
O projeto é inédito no Brasil por apostar em um desenvolvimento completamente autóctone e não em adaptação de tecnologia estrangeira. Seu nível tecnológico atual é equivalente ao TRL 3 (validação por modelagem), com meta de atingir TRL 6 (demonstração em ambiente relevante) ao término do ciclo de três anos.
Autoridades envolvidas, incluindo a ministra Luciana Santos, o presidente da Finep Elias Ramos, o presidente da CNEN Francisco Rondinelli Júnior, o presidente da INB Adauto Seixas e o CEO da Diamante Pedro Litsek, realçaram que o projeto representa um marco estratégico para o futuro da matriz energética brasileira e para a autonomia tecnológica do país. Espera-se que os primeiros microrreatores comerciais de 5 MW, encapsulados em containers, estejam operando entre 2033 e 2035, trazendo impactos significativos para a redução do uso de geradores a diesel, diminuição de emissões de CO₂ e fortalecimento da soberania energética em regiões remotas.
Com esta iniciativa, o Brasil projeta-se como protagonista global no setor de energia nuclear modular, ampliando sua tradição no campo e reforçando sua posição estratégica rumo a uma matriz limpa e diversificada.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp











